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[Diario Folha] de S. Paulo de Brasil: ‘Chile hoje é um país com pouca energia política’, diz ex-candidato

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Numa comparação superficial, o cineasta, ex-deputado e ex-presidenciável chileno Marco Enríquez-Ominami, 40, pode ser considerado o «Eduardo Campos» do Chile.

Por muitos anos, Ominami foi do PS, o Partido Socialista da atual presidente do país, Michelle Bachelet.

 

Em 2009, apresentou-se como pré-candidato do partido à Presidência da República. Fracassou. Ominami então se «rebelou» e disputou como candidato independente. Obteve 20% dos votos.

No ano passado, foi novamente candidato. Encolheu, tendo 10,9% dos votos.

Mas segue sendo referência. Na semana passada, reuniu-se com os presidentes do Equador, Rafael Correa, e da Bolívia, Evo Morales.

Nesta conversa com a Folha, ele sustenta que, apesar da grande expectativa, pouca coisa deve mudar, na prática, na política externa do Chile. E afirma que, se Bachelet não fizer já as reformas que prometeu, dificilmente conseguirá implementá-las

Folha – O que esperar do novo governo de Michelle Bachelet em relação à América Latina? Haverá um giro à esquerda?

Marco Enríquez-Ominami – Em primeiro lugar, ocorrerá um giro em direção ao Brasil. Em segundo lugar, um fortalecimento da relação com o Equador e uma linguagem distinta com a Bolívia [que trava uma disputa territorial com o Chile].

Haverá mudanças, portanto, no plano simbólico. Mas não sei se elas ocorrerão no substantivo.

E com relação à Venezuela?

Não creio. O Chile, nos últimos 14 anos, jogou neutro. No primeiro governo de Bachelet, não quis votar para a Venezuela na eleição para o Conselho de Segurança da ONU [em 2006].

A fortaleza da nova diplomacia é que ela se define como progressista.

A incerteza é o fato de que talvez Bachelet seja a presidente mais conectada com os EUA que o Chile já teve nos últimos 24 anos.

Viveu em Nova York, se formou em defesa em Washington. É um sintoma. Eu não sei se a Dilma ou se o Chávez estudariam temas de defesa nos EUA tendo sido vítimas de uma ditadura.

Ela tem conexões intensas, é amiga de Hillary Clinton.

Bachelet prometeu uma série de reformas na campanha eleitoral. Acredita em mudanças no modelo econômico?

Eu tenho uma crítica fraterna em relação aos governos progressistas da América do Sul.

Em dez anos, eles aumentaram os gastos sociais, se preocuparam com o que era urgente, combater a extrema pobreza.

Mas nossos modelos de desenvolvimento não mudaram. Nem o petróleo, nem a soja, nem o cobre, nem o gás fizeram com que nossos países fossem mais industrializados.

Boa parte da industrialização da América do Sul e da infraestrutura foram feitas antes.

Houve uma acomodação por causa da bonança ocasionada, em parte, pela explosão do preço das commodities que esses países exportam?

Sim, mas chefes de Estado não são jornalistas nem filósofos.

Eles teriam que mastigar o chiclete e caminhar, como se diz no Chile. Mesmo com as dificuldades, deveríamos fazer agora.

Por isso é muito simbólico que o primeiro projeto que ela enviou ao Congresso tenha sido o dos bônus [renda extra de US$ 80 a cada semestre que, a exemplo do Bolsa Família no Brasil, é concedida às famílias mais pobres]. Não foram as reformas tributária, da educação, da Constituição.

E por que é simbólico?

Há pouca expectativa, há pouca energia política hoje no Chile.

Somos a democracia com a mais baixa participação em toda a América Latina [com o voto facultativo, implantado no ano passado, só 42% dos eleitores chilenos votaram no segundo turno presidencial]. E isso é grave, grave.

Há um divórcio entre a política e a sociedade. Nós falamos de Assembleia Constituinte, de educação, e 77%, de acordo com as pesquisas, esperam de Bachelet outra coisa: os bônus.

A maioria acredita que ela não fará as outras reformas. E aceitam isso, pois mesmo assim votaram nela.

Bachelet é inteligente, leu as pesquisas e por isso enviou esse projeto em primeiro lugar.